Orientação ao crédito rural e plano orgânico embasam agricultores de Parelheiros
Cultivar orgânicos depende do esforço permanente do agricultor em tornar o solo vivo, o que ultrapassa a simples troca de adubos químicos por insumos orgânicos. Detalhes do cultivo de morango e tomate, por exemplo, mostram a delicadeza dessa relação, e estiveram entre os temas do curso de “Educação Ambiental para Incentivar a Agricultura Orgânica nas APA Bororé-Colônia e Capivari-Monos”, no último dia 12 de março, em Parelheiros (SP). E além do plantio, é preciso atenção às políticas públicas que valorizam o agricultor familiar, outro tema enfocado na última aula por técnicos da CATI (Coordenadoria de Assistência Técnica Integral).
A agricultora Maria José Kunikawa (Tomi) descobriu que as variedades de tomate bocaina e roquesso se adaptam melhor à região de Parelheiros, enquanto o agricultor Antônio Sodré defende que semear o tomate direto na terra sobre um jornal molhado é uma boa forma de se obter mudas.O consultor em agricultura orgânica Júlio Soraggi, da Associação Biodinâmica e professor do curso, lembrou porém a importância do uso de bandejas e de substratos para a produção de mudas e, neste caso, sugeriu uma mistura de húmus de minhoca, torta de mamona e farinha de osso.
O projeto é uma realização do Instituto 5 Elementos – Educação para a Sustentabilidade e da Prefeitura de São Paulo por meio do Fundo Especial de Meio Ambiente (FEMA). Para além do município, os técnicos da CATI mostraram o quanto a região metropolitana e o Estado como um todo enfrentam dificuldades quanto ao acesso do agricultor às políticas públicas já existentes, como Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar), PAA (Programa de Aquisição de Alimentos) PNAE (Programa Nacional de Alimentação Escolar) ou PPAIS (Programa Paulista de Agricultura de Interesse Social).
“Mais do que o crédito do Pronaf, hoje os programas têm como carro-chefe a questão do escoamento e da distribuição. Um agricultor pode vender até 40 mil reais por ano, por meio de programas institucionais de aquisição de alimentos da agricultura familiar. Mas para acessar esses programas precisa se enquadrar nos critérios que o definem como agricultor familiar, como ter 50% da renda proveniente da atividade agropecuária, propriedade de até 20 hectares e até dois empregados”, esclareceu Paulo César, técnico da CATI. Segundo Ceceo Chaves, coordenador do projeto do Instituto 5 Elementos, as linhas de financiamento são limitadas e inacessíveis ao pequeno produtor pois a burocracia e as exigências são muitas, como por exemplo, a outorga de água, que por sua vez depende do levantamento planialtimétrico da área e da averbação de reserva legal, cujo custo é inviável para um pequeno produtor. Além disso, os órgãos públicos responsáveis não possuem equipe suficiente para atender esse público.
Mas buscar a conversão aos orgânicos e a certificação mostra-se essencial rumo a melhores resultados financeiros aliados à proteção do meio ambiente. Nesse sentido, faz-se necessário ter o plano de manejo e gestão da propriedade orgânica, o qual implica saber o que se quer produzir, em que época e ter planejado o ciclo de cada cultura. “Trata-se de um cronograma do plantio, que inclui detalhes como o tipo de insumo usado e onde o produto foi vendido, que garantirão a rastreabilidade do que é produzido e por quem, explicou Júlio.